E, como era de se esperar, essa obrigatoriedade de ficar preso dentro de casa acabou mudando os hábitos de uso da internet de muitas pessoas. Por isso, o jornal New York Times fez uma análise dos relatórios de uso publicados pela SimilarWeb e pela Apptopia (duas empresas que trabalham com análise dos hábitos de navegação dos usuários de internet nos Estados Unidos) para entender como o novo coronavírus mudou os padrões de acesso dos estadunidenses. A análise considera dados coletados entre os dias 15 de janeiro (período em que ainda não havia nenhum caso confirmado da doença no país) e 24 de março (quando todos os maiores centros urbanos já estavam em quarentena há algumas semanas), e deixa claro como a ameaça do vírus alterou aquilo que as pessoas buscam na internet.
Reuniões via internet
A exigência das regras de distanciamento social tornou impossível que as pessoas continuassem organizando festas ou se encontrando para beber nos bares da cidade, mas mesmo com a quarentena elas têm achado formas criativas de manter esses hábitos de encontro através da internet. Desde que se iniciou a pandemia, houve um aumento do uso não apenas de aplicativos de mensagens, mas de apps que permitem que as pessoas façam videoconferências com diversas pessoas ao mesmo tempo, como o Google Duo e o Houseparty. Isto é um indício de que, mesmo isolados, as pessoas continuam procurando o contato humano em seus relacionamentos, e nesta época de distanciamento social e reuniões por videoconferência poder ouvir a voz e ver o rosto de seus amigos e familiares é a sensação mais próxima de se dividir uma mesa de bar.
Trabalho e ensino à distância
A quarentena também obrigou as pessoas a encontrarem formas de continuarem a executar seus trabalhos ou terminar seus estudos sem precisar sair de casa, e com isso elas subitamente viram aplicativos que permitem este tipo de atividade deixarem de ser uma curiosidade e tornando-se parte de suas rotinas diárias. A necessidade de se efetuar reuniões com todos os participantes em lugares diferentes aumentou em muito o uso de apps como Zoom e Microsoft Teams, e o Google Classroom tem sido a forma mais fácil de diversas escolas garantirem que todos os seus alunos recebam as lições que deverão ser completadas. Claro, nenhum destes será um substituto efetivo para as reuniões e aulas presenciais, mas este período de quarentena pode mudar alguns costumes quando tudo retornar ao normal pelo fato de todos já estarem mais acostumados a participar deste tipo de atividade mesmo à distância.
Entretenimento além do celular
Com a impossibilidade de se sair para visitar restaurantes, cinemas, shoppings ou qualquer outro lugar público onde há uma grande concentração de pessoas, obviamente houve uma maior procura por opções de entretenimento online, o que fez com que serviços como o YouTube, a Netflix e o Facebook tivessem um belo aumento nos acessos, já que as pessoas estão procurando formas diversas de se divertir sem precisar sair de casa. Mas um dado interessantíssimo desse período não era esperado por nenhuma dessas empresas: a diminuição do acesso a esses serviços através de dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Os dados mostram que, ainda que esses serviços de entretenimento online tenham recebido um enorme aumento na procura desde a metade de janeiro, este aumento está quase todo concentrado no acesso aos websites desses serviços, e não no uso dos apps dos mesmos – que em alguns casos chegou até a cair, contrariando a tendência de crescimento dos últimos anos. Isto quer dizer que não apenas as pessoas estão acessando mais a Netflix e o YouTube, mas o estão fazendo de seus computadores e laptops, e não de seus celulares. Ainda é muito cedo para fazer qualquer projeção de que essa mudança terá efeitos duradouros ou irá desacelerar a mudança do mercado de tecnologia para um ambiente focado em aplicativo, mas o mais provável é que as pessoas achem (e com razão) muito mais confortável assistir um filme em seus laptops do que em seus smartphones quando estão sentadas no sofá de casa.
A hora e a vez da mídia tradicional
Enquanto a pandemia do COVID-19 tem sido um problema para diversos negócios ao redor dos Estados Unidos, a busca pelas últimas informações sobre o vírus tem aumentado a procura por veículos da imprensa mais tradicional em todo o país. Desde que o vírus chegou oficialmente aos Estados Unidos, houve um enorme aumento nos acessos de jornais locais (como o San Francisco Chronicle, da cidade de San Francisco, o Boston Globe, de Boston, e o Seattle Times, de Seattle), já que as pessoas estão cada vez mais preocupadas sobre como o vírus está afetando suas comunidades locais. Ao mesmo tempo, também ocorreu um enorme aumento na busca por veículos que trazem um tipo de jornalismo mais tradicional, como a CNBC e o New York Times, que viram seus acessos diários disparar graças às reportagens e atualizações referentes ao novo coronavírus. Ao mesmo tempo, esse pico de acessos não é refletido em sites que são mais focados em artigos de opinião e que são abertamente partidários, como o Breitbart (ligado aos partidos de direita dos EUA) e o Truthdig (ligado aos partidos de esquerda), que viram seus acessos estagnarem – e, em alguns casos, até mesmo caírem – indicando que neste período as pessoas têm procurado mais por informações factuais do que por opiniões políticas.
Videogames são o novo esporte
Com todas as grandes ligas esportivas canceladas, o consumo de esportes se resume a uma ocasional partida do campeonato bielorrusso ou a competições de bolinha de gude, e logicamente isto causou uma perda de interesse por sites esportivos – e que pode ser vista claramente nos números da ESPN, que perdeu cerca de 40% de seus visitantes diários entre janeiro e março. Ao mesmo tempo, o interesse por conteúdos de videogames nunca foi tão grande, e cada vez mais pessoas têm procurado por streamings de jogos em sites como o Twitch, que viu seu tráfego aumentar em quase 20% nos últimos três meses. Essa mudança de interesse possibilitou o surgimento de coisas que até pouco tempo eram impensáveis, como um campeonato oficial de NBA 2K20 patrocinado pela própria NBA, disputado por astros do basquete e transmitido ao vivo pela ESPN para todo o mundo. Fonte: The New York Times