Muitas salas que eram para apenas curtir o sofá viraram parcialmente área de trabalho, e muitas cozinhas que eram aquele lugar de elaborar um almoço legal de domingo, viraram apenas um espaço onde “quanto mais fácil e rápido, melhor”. Os horários passaram virar um vidro embaçado, onde com descuido, se trabalha mais do que os tempos exigidos. A rotina com crianças e família mudou. Nossa casa virou mais que um lugar passageiro. E então nossa relação com nosso lar mudou completamente. Para entender melhor essas mudanças dos brasileiros com seus lares na pandemia, o Google, junto com a Consumoteca se juntaram e fizeram não apenas uma pesquisa, como também acompanharam 20 lares — de classe sociais econômicas diferentes, e de diferentes estados — não apenas mostrar números, mas também compreender quais essas mudanças e como elas vão impactar na rotina pós-pandemia. Parte da pesquisa mostra, por exemplo, que a busca por novos imóveis cresceu cerca de 23% no primeiro semestre de 2021, em comparativo com o mesmo período do ano anterior. Outra pesquisa mostra que a procura de móveis que se adaptem a nova situação cresceu exponencialmente, por exemplo, buscas por “escrivaninhas multifuncional” cresceu 240% em relação ao ano anterior. Seja para se mudar, ou para deixar seu lar mais confortável possível para se encaixar na situação, uma coisa é certa, o brasileiro passou a ter uma relação muito mais intimista com o próprio lar. Uma pesquisa on-line do Google em junho apontou que 42% dos brasileiros se sentem mais ligados às suas casas depois da pandemia, e também mostrou que 47% dos entrevistados pretendem continuar a colocar a casa como um investimento prioritário, mesmo depois da pandemia.
Como a pandemia afetou as mudanças e percepções de nossos lares
Depois de um ano e meio de pandemia, é normal que haja mudanças nos planos que antes estavam só no papel. Ideias — que agora viraram decisões — como aquela reforma que ficou parada por muito tempo, a independência (sair da casa dos pais), casamentos, o crescimento da família com a vinda de filhos, ou até mesmo o divórcio, geraram novas necessidades de consumo e adaptação nos lares dos brasileiros. A ideia agora já não é mais algo passageiro, e sim muito mais permanente e pensado para o futuro. Essas atitudes ficam evidentes ao compararmos as motivações das compras que já foram feitas com aquelas que estão por vir, exemplo é uma pesquisa apontando que as compras relacionadas a uma mudança de imóveis sobem de 15% para 20%. Mas essas mudanças e percepções das pessoas com seus lares na pandemia, não é apenas algo romântico e idealizado. Por passarmos mais tempo agora em casa do que na rua — ou em escritórios fechados — estamos tendo uma percepção muito maior das coisas que precisam ser feita, e temos a necessidade de mudar o ambiente para que ele se adeque a essa nova realidade.
Quais as motivações que impulsionam essa necessidade de compra e adaptações?
Para entender profundamente essas adaptações o Google mapeou 4 camadas de motivações para todas as mudanças que temos feito — ou queremos fazer em nosso lar: Mas é claro que isso pode ser um pouco ambíguo, já que isso pode mudar de família para família, suas condições e classes sociais, ainda mais com a crise tendo deixado muito mais as claras as diferenças sociais, e isso afeta completamente a forma como as pessoas enxergam seus lares na pandemia. Uma família mais abastada vê isso mais como um upgrade de algo que já está bom, enquanto famílias menos abastadas vê isso como uma necessidade de funcionalidade, com muitos itens sendo comprados pela primeira vez.
As principais mudanças dentro dos lares na pandemia
Sala: lugar de multitarefas
Entre o todos os cômodos, a sala foi o local mais afetado dentro de casa, de acordo com a pesquisa. O que antes era apenas um lugar de lazer e descanso social virou agora, área de trabalho, estudos, convívio, refeições e também o lazer. A busca por móveis que pudessem suprir essa multifunções subiu cerca de 100% se comparado ao ano anterior. O home office que hoje é uma forma de trabalho que durante a pandemia se tornou quase que a forma oficial de trabalho foi uma das maiores razões para que houvesse compras e reajustes no ambiente da sala. As buscas por móveis que se adequassem subiu exponencialmente, quase 37% a mais em pesquisas de móveis modulares, e é objetivo de quase todo brasileiro (41%) tornar esse espaço cada vez mais funcional e confortável.
Cozinha: quanto mais prático, melhor
Eu cresci ouvindo de minha mãe que a cozinha é o lugar da casa onde mais passamos nosso tempo. Não discordo. Mas com o confinamento, a verdade é que cozinhar passou a ser uma grande fadiga, ainda mais quando se passa tanto tempo em casa em uma rotina que pode ser bem exaustiva. Então a busca por itens que facilite o preparo do alimento se tornou a principal busca do brasileiro. Exemplo é que pesquisas de produtos como Airfryer subiu 32% em comparação ao último ano, a busca por torradeiras cresceu 24% e 22% as buscas por sanduicheiras. Mas por outro lado, a pesquisa indica que aqueles que moram sozinho ou como casal, a cozinha virou um lugar de prazer e hobbie, tendo como o ato de cozinhar uma aventura. Procurando entender melhor a origem dos alimentos e novas formas de cozinhar, o que fez com que a preocupação por saúde e equilibrio se tornassem maiores. Confira outros itens que tiveram suas buscas em alta:
Micro-ondas (+12%);Potes organizadores (+11%);Cafeteira (+12%).
Quarto: a funcionalidade para descanso
Durante a pandemia, o cômodo se tornou um espaço para relaxamento e privacidade — para aqueles que tem esse privilégio. A surpresa foi o maior interesse por conforto sensorial, um aconchego para além da cama, presente nas roupas de cama e jogos de toalha. Essas buscas por qualidade e conforto chegou a crescer 145%. As maiores buscas são as camas-baú que cresceu 17% e caixas organizadores e cabines +12%.
Quintais e varandas – o luxo premium
A varanda ou um quintal tornou-se um grande item de desejo — e também um artigo de luxo — considerando que os imóveis que os possuem são mais caros se comparados à imóveis que não. Podemos ver isso com a alta busca por esse espaço durante a pandemia, e mesmo agora com a volta parcial da rotina fora de casa essa busca ainda é um dos principais fatores na busca, crescendo cerca de 20% no primeiro semestre de 2021, se comparado com o mesmo período do ano anterior. Para quem não tem uma varanda ou um quintal, trazer um pouco da natureza para dentro de casa também foi um fator muito importante para muito lares na pandemia. Fato é que a busca por artigos relacionados a jardinagem cresceram também.
A busca por imóveis: os principais fatores de pesquisa
Outra pesquisa do Google essa feita em setembro, mostra a busca por imóveis e o mercado imobiliário. Feita com 1 mil brasileiros, os números apontam que preços (41%) e localização (35%) ainda são os fatores mais importantes na hora da busca. A pesquisa também aponta que com o crescimento dos números de vacinados, a busca por salões de festa também subiu mais de 91%. A mesma pesquisa aponta que 66% dos brasileiros estão sempre buscando novas informações sobre os imóveis e o mercado, mas 22% dizem se desanimar com a possível burocracia de fechar o contrato. Para 31% dos entrevistados que buscam aluguéis, disseram querer se mudar pois a casa não atendem mais a suas necessidades. Já aqueles que preferem comprar um imóvel, 40% dizem querer realizar o sonho da casa própria. A pesquisa do Google aponta também que pelo menos 20% visitam mais de cinco imóveis antes de fechar um contrato. Quando perguntados sobre o que consideram na hora das buscas por imóveis nos aplicativos e no próprio Google, o preço (40%), a qualidade e quantidade de fotos (33%) e completa discrição de detalhes sobre o imóvel (28%) são os principais fatores na hora da escolha e início de contato para visitas.
Crise habitacional também é uma realidade do brasileiro
Mas enquanto os estudos do Google aponta uma mudança e um hábito de consumo em relação a adequação de seus lares na pandemia, temos o outro lado da moeda, que indica as crises politico-social que infringe diretamente o artigo 6º da Constituição Brasileira que afirma que é responsabilidade da União – o Estado – o desenvolvimento de “programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais” A edição 2020 da Tese de Impacto Social em Habitação — revisada à luz dos impactos da pandemia — mostra um panorama assustador, nos quais os riscos físicos, psicológicos, sociais e econômicos foram intensificados entre os mais de 11 milhões de moradias que não estão de acordo com as normas básicas de saúde. Um terço dos 72,4 milhões de domicílios brasileiros tem condições inadequadas para habitação. O levantamento indicado pela Fundação João Pinheiros de Minas Gerais com dados de 2019 concluiu que essas residências tem problemas de estrutura, saneamento básico e irregularidades fundiárias. Em meio à pandemia do novo coronavírus, a habitação, que se tornou o espaço de trabalho e da vida social de diversas pessoas devido ao isolamento, vem refletindo uma desigualdade latente e um desrespeito a Constituição e acordos internacionais. Segundo dados da campanha Despejos Zero, no último ano, mais de 9 mil famílias sofreram com ações de despejos pelo país, sendo que outras 64 mil seguem correndo risco de perder seus lares. Uma nota técnica do Ipea, divulgada em meados de 2020, apontava para mais de 220 mil pessoas vivendo em situação de rua no Brasil, desconsiderando ainda os efeitos da pandemia. Neste cenário, apesar do colapso na saúde e a crise econômica, as ações de despejos continuam ocorrendo com a permissão do judiciário, enquanto se propagava o discurso do “fique em casa”. Neste cenário, alguns representantes do Poder Legislativo vêm se mobilizando para emplacar projetos de lei que proíbam os despejos durante a crise sanitária, como é o caso da PL nº 1975/2020, de autoria da deputada Natália Bonavides (PT-RN), foi aprovado na Câmara Federal em maio de 2020. Ainda nos primeiros meses de pandemia, em julho de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) já mostrava preocupação com a permanência de políticas de despejos e remoções no Brasil. Quando os primeiros dados referentes aos despejos em solo brasileiro começaram a ser divulgados, o relator especial pelo Direito à Moradia da ONU, Balakrishnan Rajagopal, em comunicado divulgado à imprensa, criticou a atuação do Estado brasileiro: Também há de se considerar a situação vivida por famílias que se viram obrigadas a trocar as paredes de concreto por de madeira, tendo a lona como telhado. Desde julho de 2020, moradores da ocupação Jardim Julieta, que surgiu em meio à pandemia em um terreno baldio na Zona Norte de São Paulo, sofrem com a ameaça de reintegração de posse por parte da Prefeitura, que é dona do terreno. Entre os cortes que agravam o cenário está o do Orçamento de 2021 para a habitação. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou 98% dos recursos que seriam destinados ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que financia as obras da faixa 1 do antigo Minha Casa Minha Vida, agora chamado de Casa Verde e Amarela. O congresso previa um orçamento de R$ 1.540 bilhão, que foi limitado a R$ 27 milhões. O corte impacta, principalmente, a faixa do programa voltada às famílias de baixa renda, que ganham até R$ 1,8 mil. Por um lado temos muitos brasileiros que ficaram intimista de seus lares na pandemia, mas também podemos ver que muitos perderam seus lares na pandemia, e em meio uma crise sanitária, perder o lar é a última coisa que deveria ser uma preocupação.
Veja também:
Geração Z vai liderar o futuro sustentável! Fontes: Imobi | Think With Google | BBC News