Mas agora, sete anos depois que vimos Joaquin Phoenix se apaixonar pela voz de Scarlett Johansson em Her, a proposta de uma relação de dependência dos humanos pela tecnologia apresentada pelo filme não está assim tão longe da realidade, principalmente devido aos avanços tecnológicos conquistados e pelo isolamento social em decorrência da pandemia da COVID-19. Se até fevereiro nossos smartphones, tablets e computadores serviam como ferramentas de trabalho e lazer, atuando como um facilitador de nossa comunicação com amigos e familiares, durante o período de isolamento social eles são a única ponte de contato efetiva (e segura) entre nós e as outras pessoas. No início do ano, mandávamos mensagens pelo WhatsApp para marcar o bar de sábado, onde conversaríamos presencialmente sobre nosso dia-a-dia, problemas pessoais, contaríamos histórias, entre outros. Agora, precisamos dos aparelhos tecnológicos para suprimir a falta da interação e de contato físico. Desenvolvemos uma nova forma de interação e relacionamento com a tecnologia à nossa disposição que assim como em Her, apesar dos diferentes motivos, tem substituído nossas interações com outras pessoais. No filme, Phoenix interpreta Theodore Twombly, um homem solitário, introvertido e deprimido, que se recupera da dolorosa separação de sua esposa. No entanto, sua vida muda depois que seu computador recebe um sistema operacional totalmente novo, vinculado a um smartphone com fone de ouvido. O OS, uma inteligência artificial hiper sofisticada que se adapta às necessidades de cada usuário, se apresenta como Samantha, representada pela voz de Scarlett Johansson. Logo, Samantha começa a ajudar Theodore com tarefas rotineiras, a dar conselhos pessoais e a fazer sugestões íntimas. As conversas entre eles vão se tornando menos corriqueiras e mais sentimentais e logo, um se apaixona profundamente pelo outro, iniciando assim um relacionamento amoroso entre homem e máquina Esse relacionamento apresentado no filme, no entanto, não é exclusivo de Theodore e Samantha. Outros também suprem suas necessidades emocionais com as respectivas inteligências artificiais — e não é incomum OS se relacionar com mais de uma pessoa. E quando a vontade por contato físico entre os casais surgem, prostitutas são chamadas para intermediar a intimidade sexual entre humano e OS. Enquanto não chegamos ao ponto de relacionamentos amorosos com assistentes virtuais na vida real, a verdade é que a distopia apresentada no filme de Jonze não pode ser considerada como uma impossibilidade futura. Nossas relações com a tecnologia se transformam cada vez mais rápido, impulsionadas pelos novos aparelhos e sistemas desenvolvidos a cada ano. É, inclusive, possível dizer que em certos aspectos estamos ainda mais “evoluídos” quanto à distopia em Her, pois enquanto ainda era preciso um humano para atuar como intermediador de relações sexuais entre homens e máquinas, na vida real existem empresas focadas no desenvolvimento de robôs sexuais com inteligência artificial. Em um cenário de pandemia e isolamento social mundial, assim como de grande desenvolvimento e popularização de dispositivos de inteligência artificial, Her se torna ainda mais atual do que era em 2013 – e provavelmente continuará sendo ainda mais relevante nos próximos anos. O filme, que parecia uma irrealidade distópica quando foi lançado, sem dúvidas entrará na categoria de obras que previram corretamente o futuro. Apesar de ter deixado o catálogo da Netflix em 2018, o filme ainda pode ser assistido por streaming na Globoplay, ou então por aluguel ou compra no Google Play Filmes, iTunes e Microsoft. Fontes: Inverse, The Guardian, The Sun, Just Watch