Aqui no Brasil, o Conselho Federal de Medicina reconhece o tratamento homeopático desde 1980, e o SUS oferece esse tratamento alternativo em suas redes desde 2006. No site do Ministério da Saúde há uma publicação que explica do que se trata esse método terapêutico, mesmo não deixando claro sua eficácia.
O que é homeopatia?
De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, a homeopatia é Segundo o Better Health, site governamental australiano, a medicina homeopática afirma estimular uma resposta de cura e fortalecer a capacidade do corpo de se curar. Aqueles que a praticam afirmam ser um sistema holístico de medicina baseado na teoria de tratar ‘igual com igual’. Ainda segundo o site, a medicina busca estimular a resposta de cura do próprio corpo às doenças, usando preparações especiais e altamente diluídas. Basicamente, essa forma de tratamento indica que ao tratar seu corpo com algo semelhante ao que te aflige, é criada uma resposta imunológica no corpo para a restituição natural e cura. Vale lembrar que esse tratamento não é comprovado pela medicina e ciência, e que se você estiver em algum tipo de tratamento, não deve substituir seus remédios pela homeopatia. Converse com seu médico.
Como funciona a homeopatia?
Segundo estudiosos e praticantes, a homeopatia funciona pois foca, além de no corpo físico, também num princípio vital, uma espécie de energia, responsável pela resposta do corpo nas questões biológicas e de estímulos externos. Segundo a mesma publicação do Ministério da Saúde, que explica o tratamento, a homeopatia entende que uma pessoa só está saudável quando essa energia vital está em equilíbrio.
Muito antes das respostas físicas à doença, entende-se que os estados mental e emocional são os primeiros afetados. Então o tratamento foca no processo de restauração dessa energia que leva a melhoras dos sinais vitais e na sensação de bem-estar.
Nesse tratamento, levam-se em consideração duas “leis” fundamentais: Lei dos Semelhantes e Lei dos Infinitesimais.
Lei dos Semelhantes
Aqui o tratamento é feito com substâncias que produzem sintomas semelhantes aos da doença que afeta o indivíduo. Segundo Rubens Dolce Filho, segundo secretário do Departamento Científico de Homeopatia da APM (Associação Paulista de Medicina), no início do tratamento pode haver uma agravação da doença, por se tratar de substâncias que produzem efeitos iguais aos já diagnosticados, mas que gradualmente desaparecem, já que o corpo reage para combater a doença.
Lei dos Infinitesimais
Nesta fase, a ideia é diluir o máximo possível as substâncias usadas (pois são extremamente tóxicas, já que produzem o mesmo efeito das doenças). Um exemplo é o uso aprovado pela Família Real Inglesa, até 2015, de um remédio com fragmentos do Muro de Berlim. Para o tratamento homeopático, usar o remédio com pequenos fragmentos do muro, em uma solução em álcool fortemente diluído em água, que contém uma “força espiritual” da parede, pode ajudar as pessoas com problemas para criar ou quebrar barreiras em suas vidas. “A ultra diluição da substância original e seus efeitos não podem ser explicados pelos matizes da farmacologia clássica, por isso gera muita polêmica“, diz Dolce Filho. O tratamento considera também a individualidade de cada paciente. Ou seja, não haverá o mesmo tratamento para mais de uma pessoa. Principalmente porque ele considera o todo do enfermo: físico, emocional e psicológico. Os medicamentos homeopáticos podem aparecer na forma líquida, granulada, pó ou em comprimidos. Seu médico também pode aconselhar mudanças gerais no estilo de vida e na dieta alimentar como parte de um plano de tratamento. Lembrando mais uma vez que os medicamentos comprovados pela ciência devem ser prioritários, e é necessário manter seu médico informado do tratamento homeopático. Quando realizado por um profissional sério, dependendo da situação, ele te encaminhará para um profissional da medicina convencional.
O que a ciência convencional e os estudos científicos falam sobre a homeopatia?
Em 2015, a Austrália divulgou uma tese que analisou mais de 1800 artigos que mostravam que a homeopatia não funciona e é completamente ineficaz. Entre os 1800 artigos, 255 deles eram rigorosos o suficiente para serem analisados de forma mais aprofundada. Essas análises revelaram não haver nenhuma evidência boa o suficiente para apoiar a alegação de que a homeopatia é eficaz no tratamento de problemas de saúde. Segundo a pesquisa, “pessoas que escolhem a homeopatia podem colocar sua saúde em risco se rejeitarem ou atrasarem tratamentos para os quais existem boas evidências de segurança e eficácia.” O médico Drauzio Varella, para o Roda Viva, também comenta sobre a falta de embasamento científico para esse tipo de tratamento. Em 2017, foi publicado pelo Easac (Conselho Científico das Academias de Ciências Europeias) um artigo que denuncia a ineficácia da homeopatia e desencorajando os serviços de saúde de bancar tais remédios. Nesse mesmo ano, a Inglaterra bloqueou os reembolsos de tratamentos homeopáticos e cessou o financiamento dos hospitais do tipo. Em 2019, o governo francês também declarou que não financiaria remédios homeopáticos, pois não há comprovação de sua eficácia. Aqui no Brasil, um debate feito por pesquisadores da USP colocou em pauta a eficácia e a ineficácia do tratamento. Em 2017, foram publicados vários artigos que comprovavam a ineficácia do tratamento. Estudos feitos por Beny Spira, professor da USP e doutor em genética molecular, afirmam que a homeopatia “é uma das mais manjadas pseudociências (uma ciência falsa)“. Marcus Zulian Teixeira, professor de homeopatia da USP, postou um artigo em resposta a Spira, defendendo a modalidade. Teixeira disse que existem, sim, artigos científicos sobre o tema, para quem se dispusesse a ler. O problema desses artigos é que eles são altamente criticados pelo corpo científico. Exemplo foi o estudo publicado pela Scientific Reports em 2018, que afirmou que um tratamento homeopático pode aliviar dores em ratos. Mas a verdade é que erros foram encontrados nos estudos, e no fim a revista retirou o artigo do ar.
A homeopatia apoia a vacinação contra a COVID-19?
Uma matéria publicada pelo Viva Bem, da UOL, afirma que, aqui no Brasil, o tratamento é, em teoria, a favor da vacinação contra a COVID-19, mas que, na prática, não tem sido exatamente desta forma. Nessa mesma publicação, afirma-se que em entrevistas os jornalistas ouviram casos de médicos homeopatas que indicavam não tomar a vacina ou que afirmavam entregar uma “vacina natural”. Ainda na mesma matéria, o médico Voltaire Froes, de Porto Alegre, negacionista da vacina contra a COVID-19, afirma “Estou perplexo em como conseguiram movimentar a comunidade mundial em cima de uma vacina que não produz imunidade. A própria CoronaVac, que está sendo aplicada em São Paulo, tem menos de 48% de eficácia.“ Vale lembrar que a porcentagem de cada vacina varia de acordo com a origem de seus estudos, que a CoronaVac funciona sim em sua proposta contra agravamento e morte pela doença. A importância da vacinação é pelo bem coletivo e social. O presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira afirma que a vacina é o único método eficaz de acabar com a pandemia. O homeopata Walter Canôas, membro da Escola de Homeopatia de São Paulo, também se expressou dizendo haver muito preconceito no meio da comunidade científica contra a medicina alternativa, mas esses mesmos que criticam a homeopatia indicam cloroquina no tratamento da COVID-19 — remédio que já foi comprovadamente e reafirmado muitas e muitas vezes que NÃO é eficaz contra o vírus.
Agora a pergunta mais importante: a homeopatia funciona de verdade?
Se você confiar na experiência pessoal dos pacientes, há um grande número de pessoas que afirmam, geralmente com grande certeza, que foram curadas ou pelo menos ajudadas pela homeopatia quando a medicina ortodoxa falhou. Pode-se ver o porquê. O sistema é fácil de entender e parece seguro. Consultas longas, per se, são tidas como terapêuticas e necessárias pelos homeopatas, embora raramente se perceba que uma sucessão de consultas mais curtas com um clínico geral ortodoxo também se estendam, com a vantagem adicional de que essa série de consultas permite a observação do desenvolvimento ou desaparecimento de uma doença ao longo do tempo. Isso é especialmente importante porque muitas das doenças tratadas pelos homeopatas são transitórias e desaparecem espontaneamente, ou são cíclicas, consistindo em uma série de ataques seguidos de remissões espontâneas. Se uma visita a um homeopata for seguida por uma remissão ou pelo desaparecimento total de uma doença, o medicamento homeopático leva o crédito. Se alguma vez existiu um sistema médico que clamava por um estudo científico cuidadoso, esse sistema é a homeopatia. Um dos primeiros estudos, realizado em 1835, é surpreendente por ser muito próximo de um estudo duplo-cego, aleatório e controlado, realizado com grande cuidado muito antes de meados do século XX, quando a maioria de nós acreditava que esses ensaios (como são chamadas essas análises) randomizados eram os primeiros concebidos e executados. Ele mostrou, aliás, que a homeopatia era ineficaz. Alguns médicos homeopatas argumentam que a realização de ensaios clínicos randomizados é uma atividade apropriada para a medicina ortodoxa, mas inadequada para a homeopatia, onde a eficácia só deve ser avaliada pela satisfação do paciente. Segundo Luiz Carlos Dias, professor de química da Unicamp, nunca houve nenhuma comprovação científica e que o tratamento homeopático se baseia numa grande diluição para haver um “poder de cura” e que isso vai contra as leis da química, da física e também do bom senso. Mas a verdade é que, apesar de não ter nenhuma base para comprovar sua eficácia, se a homeopatia é boa para os pacientes ou não, esse é um método medicinal muito utilizado como alternativo. Há alguns estudos que indicam que a homeopatia e a medicina ortodoxa podem se complementar. Enquanto a medicina convencional trata da doença em si, a homeopatia trata os sintomas e a forma com que o corpo reage à doença. Seja como for, não é recomendável, de forma alguma, parar o tratamento da medicina convencional e substitui-lo pelo tratamento homeopático. E se optar pelo tratamento alternativo, converse com seu médico primeiro. Gostou de nossa matéria? Confira também as 10 pessoas que marcaram a ciência em 2019. Fontes: Viva Bem UOL | Better Health | Bloomberg Businessweek | Smithsonian Magazine