Mesmo que somente na última década (nos “anos 2010”) o patamar tenha sido elevado ao nível de se tornar uma profissão, nunca é tarde para começar a considerar criar seu canal no YouTube – ou, se tiver criado, pode começar a levá-lo a sério. Na prática, as formas de lucrar com a sua produção é bem variada. Por isso, decidimos explicar ao longo desta publicação o modo mais eficaz de ganhar dinheiro fazendo vídeos em pleno 2020.
De criador para criador
Se você já considerou “virar youtuber”, provavelmente esbarrou com termos como AdSense e a monetização do canal. Ambos estão relacionados ao fato de a plataforma te pagar pelo sucesso que você fizer com o público, geralmente pela forma de anúncios, que explicaremos em detalhes na sequência deste texto. Antes, para quem quiser matar logo a curiosidade, vamos direto ao ponto: quanto um criador de conteúdo ganha diretamente do YouTube? Shelby Church, americana criadora de conteúdo tech e lifestyle que tem 1,4 milhão de inscritos, revelou que ela recebe de 4 a 5 mil dólares em um vídeo de 10 minutos ou mais com 1 milhão de views. Quando a duração é inferior a 5 minutos, o lucro cai para 2-3 mil dólares. Ironicamente, o vídeo onde ela explica o quanto ganha provavelmente gerou uma renda de 30 mil dólares, dado o número de visualizações e a duração. Luisa Accorsi, brasileira que fala sobre lifestyle, trouxe em julho de 2019 o mesmo tipo de conteúdo (vídeo acima de 10 minutos com 1 milhão de views) e disse que há equivalência de número, mas não de moeda: são cerca de 5 mil reais para esse vídeo. Ela também afirma que o patrocínio de uma marca acaba sendo a melhor saída para um produtor de conteúdo – por essa garantia financeira não depender do sucesso de visualizações. Dr Jake’s Very British Reviews, reviewer e vlogger britânico com 59 mil inscritos, explica justamente o quanto é insignificante o número de inscritos em relação ao quanto de dinheiro você recebe, já que tudo gira em torno unicamente de reprodução dos vídeos. Em março de 2019, Jake tinha 30 mil inscritos e calculou que a renda mensal estimada era de 500 dólares – média anual de 6,3 mil dólares, com 3 milhões de views totais no canal. Portanto, a média dele é de 2 mil dólares para cada milhão de visualizações. Tendo a projeção em mente, podemos pensar nos primeiros passos – a começar por algo bastante acessível.
Aprendendo da melhor fonte
Assim como outros serviços e ferramentas Google, o YouTube dispõe de uma espécie de curso online chamado Creator Academy, onde eles ensinam em três etapas (e uma “prova final”) a dominar os recursos de monetização da plataforma. As vídeo-aulas possuem legenda traduzida e são extensas ao ponto de ter uma boa separação com exemplos dos próprios criadores. Em um dos cursos, há uma breve lista de itens essenciais:
Desenvolva um público: publique vídeos com frequência, ao ponto de conquistar o público que irá assistir seus materiaisTenha bons números: seu objetivo inicial é acumular 4 mil horas assistidas nos últimos 12 meses e ter pelo menos mil inscritosEntre no grupo de parceiros: com estes números, você pode se inscrever no Programa de Parcerias do YouTube e só assim conseguir monetizar seus vídeosFique ligado nos seus status: acesse o YouTube Studio e acesse com frequência seu e-mail, já que eles te informarão por estes meiosCrie um Google AdSense: conecte sua conta do Google ao AdSense, pois é aqui que você terá um retorno financeiro
Networks
A network é uma organização que ajuda youtubers a lidar com responsabilidades maiores, que dificilmente estariam ao alcance de suas mãos. Alguns exemplo são suporte para produção de vídeos, promoções e direitos autorais do criador. Com isso, eles tomam conta do seu canal, cobrando um percentual do que você gerar com os anúncios do YouTube (os ads que explicaremos a seguir). Por um lado, é uma abordagem excelente a quem tem uma postagem consistente de vídeos, e não quer lidar com a parte técnica e com burocracias. Por outro lado, canais que não gerem muita visualização vão ter que dividir sua pouca receita de anúncios com a network, e talvez seja mais interessante manter total autonomia. Canais de gameplay (pessoas reagindo e jogando videogame) acabam se dando bem, já que geralmente o poder de entretenimento é menos roteirizado do que um vlogger de estilo de vida, por exemplo. Esse perfil de criadores ainda tem que se dedicar na edição de vídeos, porém, com o braço direito de uma network dedicada tudo torna-se mais confortável. Mesmo com um contrato formalizando o seu ingresso em uma network, não é de nenhuma responsabilidade da plataforma (YouTube) qualquer problema que você tenha sobre a gestão do seu canal. Se você estivesse por conta própria, os problemas também não são de solução garantida, mas pelo menos você teria a “confiança do chefe” sem o olhar de terceiros. Caso seu canal no YouTube faça sucesso e viralize, com certeza as suas responsabilidades serão menores – pois que você terá a network para te ajudar no necessário. Em resumo: coloque na balança seu potencial de lucros, defina o seu alvo para o sucesso e veja se compensa entrar em uma network.
Receitas vindas da própria plataforma
Não há como negar o óbvio. Por mais que haja formas terceiras de receber por seus vídeos, o YouTube proporciona uma fonte de lucro. A seguir, destrinchamos as ferramentas da plataforma.
Anúncios
Como comentamos acima, para você ganhar com um vídeo é necessário conectar uma conta do Google AdSense. É a mesma forma que sites utilizam para distribuição de banners ao longo de publicações. No YouTube, vídeos com mais de 10 minutos podem ser melhor monetizados pois a plataforma consegue rodar mais propagandas ao decorrer de sua duração – além do índice de permanência ser diferente se comparado a um vídeo mais curto. Do lado de empresas que criam a propaganda, a lógica é: você precisa pagar mais para soltar um conteúdo que o espectador não possa pular (obrigatórias, sem a flecha “Pular este anúncio“) e também por propagandas mais longas. O mais incrível é que você pode criar propagandas dentro do AdSense, nas campanhas do AdWords, e segmentar pela forma que você quiser pagar, seja ela por tempo acumulado, visualizações ou cliques na propaganda. A propaganda também precisaria ser um vídeo que já esteja no YouTube, com um link configurado por você de distribuição para o público-alvo. O lado bom de usar a plataforma é que eles tem mais de 1 bilhão de visitantes únicos todos os meses, então a variedade é bem acima da média se você comparar com outro site ou rede social. Do lado do youtuber-criador, temos o dinheiro dividido entre o YouTube e o canal responsável pelo vídeo com o anúncio.
YouTube Premium
Outra forma é ter seus vídeos assistidos por assinantes do YouTube Premium, o programa “VIP” da plataforma (feito para consumidores, e não criadores de conteúdo) que custa R$ 20,90 e dá acesso a streaming de música e vídeos sem propagandas. Por isso, já que os produtores dos vídeos não ganham com propaganda, essa é a forma de o YouTube recompensar – equilibrando pelo sucesso que seu vídeo fizer, sem anúncios.
Chat interativo
Vendo o crescente mercado de transmissões ao vivo que foi popularizado ao redor do mundo com o Twitch, que está em atividade há quase uma década, o YouTube decidiu investir em lives e encontrou um caminho fácil para retorno de dinheiro – e, de quebra, uma forma mais eficaz de engajamento do público com os criadores. O espectador paga para ter seu comentário em destaque no feed ao vivo, que será convertido em uma doação para o canal – a plataforma fica com 30% do total recebido. Ao fazer uma doação, há um slider que mostra a relação tempo x dinheiro. Tudo é bem tabelado: doando até R$ 2, você pode escrever uma mensagem de 50 caracteres e sua mensagem subirá junto com as demais (ficando somente em uma cor diferente); ao doar R$ 20 o comentário de até 225 caracteres fica no topo por 10 minutos; com o máximo de R$ 500 o comentário de até 350 caracteres fica até 5 horas – que costuma ser quase uma garantia de durar uma live inteira.
Membro do canal
Um membro de um canal no YouTube nada mais é que um consumidor assíduo daquele tipo de conteúdo. Assinar um canal dá como recompensa um nível diferente de prestígio, que costuma ter um piso de R$ 7,99 para a adesão mais baixa. Os canais costumam disponibilizar dois tipos de conteúdo digital: distintivo de lealdade e emoji único do canal, para que você se destaque em uma transmissão ao vivo sem custo adicional – como explicamos no item anterior. Alguns canais maiores liberam acesso a conteúdo adicional mais detalhado, como imagens dos bastidores, conta privada de redes sociais, merchandising único e acesso antecipado a vídeos. Se você estiver disposto a produzir material extra ao público mais fiel, essa é uma ótima pedida.
Por terceiros
Se você quer uma melhor garantia financeira, pode ter números mais polpudos com parcerias e patrocínios ao longo do seu vídeo, bem como links na descrição.
Patrocínio (Sponsor)
O patrocínio é quando você reserva tempo do seu próprio vídeo para fazer uma propaganda, naturalmente seguindo o fluxo narrativo do tema. No caso de vídeos longos, geralmente os criadores avisam ao espectador nos primeiros segundos que trata-se de um vídeo com conteúdo patrocinado, para melhor transparência e também por saberem que uma parcela do público assiste só ao começo do vídeo – e não necessariamente ficará até o trecho reservado para o extenso trecho do patrocínio. Jogos, aplicativos, programas de assinatura e serviços de VPN são os tipos mais comuns de parceria terceirizada pelos quais um produtor de conteúdo pode optar. As empresas geralmente abordam criadores com uma proposta de frequência (citar o produto em um ou mais vídeos), guiada pelo tipo de conteúdo do seu canal. Empresas de tecnologia têm interesse em reviewers de produtos tech, por exemplo. Nichos são ditados e a linguagem utilizada também serve como guia – seja formal ou descontraído, sério ou animado, feminino ou masculino. Gamers comediantes cujo público-alvo é composto por homens adultos, por exemplo, anuncia parcerias com produtos de saúde masculina, programas de assinatura de ingredientes de comida (popular em território americano) e aplicativos mobile.
Links afiliados
Há variações entre porcentagem recebida, mas costuma girar entre 4% e 8% se a compra for feita dentro das primeiras 24 horas do link ir ao ar.
Dos gigantes para você
Ao pensar em crescer com o seu canal, é válido conferir quem faz isso há um bom tempo. Isso também ajuda a bolar estratégias para lidar com o sucesso. Uma plataforma que se apropriou do sucesso do YouTube e já existe há mais de 15 anos, a produtora Rooster Teeth hoje pertence à WarnerMedia (a mesma “Warner” que você provavelmente conhece), sendo uma divisão de outro grupo chamado Otter Media – que também toma conta do serviço de streaming e publisher Crunchyroll. Só o canal Rooster Teeth conta com 9,5 milhões de inscritos, além dos mais de 25 milhões de inscritos se somados os canais pertencentes ao grupo, que existe desde 2003 (a era pré-YouTube). De acordo com eles em um vlog publicado em 2017, há cinco principais formas de ganhar dinheiro: publicidade, inscrições, produtos licenciados, eventos e merchandising. No caso deste vasto grupo, há eventos com seus criadores, convenções, gameplays ao vivo e outras aparições dentro e fora do território texano, onde está a sede deles. Além disso, merchandising cria a ideia de um espectador pertencer ao grupo, seja utilizando uma camiseta como referência a um meme ou comprando uma caneca com um logotipo. Em entrevista à Forbes, a produtora explica que, além de ter os canais do YouTube, o pilar acaba sendo o próprio serviço de assinatura de distribuição de vídeos (o site deles). A rede de podcasts é outro braço importante disso tudo, já que uma única gravação rende conteúdo também nos meios em vídeo – assim, um episódio pode ser distribuído tanto no YouTube como no site deles, bem como nos streamings de podcast. Logo, outra dica é: aproveite ao máximo seu conteúdo multimídia.
Ainda não tem um canal no YouTube?
Rafael Dias, CEO da network brasileira Dia Estúdio, explicou em um rápido depoimento exclusivo ao Showmetech que os primeiros passos a quem quer fazer um canal são:
Entenda sobre seus gostos e interesses para definir qual será o tema do canal. Se por exemplo você não gosta de videogame, criar um canal de videogame não trará bons resultados.Definido o tema do canal, busque conteúdo na internet dedicado à criação de um canal desse tema (há muito conteúdo gratuito, como o Creator Academy).Grave um vídeo piloto do seu futuro canal. Assista várias vezes, avalie, e mostre a pessoas de confiança que possam dar uma opinião sincera e produtiva sobre o conteúdo criado .Feitos os passos anteriores, você adquiriu conhecimento para inaugurar seu canal no YouTube.
Ele também nos conta que atualmente os canais brasileiros no YouTube tem como principais fontes de receita:
AdSense, entretanto só é relevante para canais com muita audiência. Canais menores acabam não se beneficiando tanto das receitas de anúncios.Merchandising, anunciando produtos e serviços de relevância com o conteúdo do canal.Receitas “offline”, que incluem licenciamento de produtos com o nome dos criadores, livros, peças de teatro e presença em eventos.
Importante lembrar que nenhuma destas respostas é definitiva pois esse é um mercado muito dinâmico, e podem surgir novos passos para começar um canal, e novas fontes de receitas associadas a um canal do YouTube.
Recapitulando
Depois de tantas dicas, mostrando parte da realidade nacional e internacional, enxugamos os pontos essenciais para você ter sempre à mão quando estiver cuidando do seu canal:
Domine o conteúdo de criação disponibilizado gratuitamente pelo YouTube;Procure produzir vídeos longos (acima de 10 minutos) com uma frequência confortável e consistente;Assim que atender aos requisitos básicos, ative a opção de monetizar;Considere ingressar em uma network para que ela organize a produção e burocracias do canal, e você possa focar na criação de conteúdo;Interação com o público é tudo – por isso, reserve tempo especial para fazer transmissões ao vivo;Firme sua marca, crie seu nicho de público e busque contato de parcerias;Considere utilizar o conteúdo de vídeo em mais de uma plataforma – seja em outra rede social ou uma plataforma de podcasts, por exemplo.
FONTES: Social Media Today, Moneywise, DSA, OBERLO