Isso mesmo. Gerard Way (para quem não lembra, vocalista do My Chemical Romance) e Gabriel Bá (paulista que conquistou o mundo com a fanzine 10 pãozinhos) uniram forças e entregaram, lá em 2008, uma série em quadrinhos de uma família de heróis disfuncionais com uma pitada de Família Addams e uma boa dose de problemas. Resultado? Um Prêmio Eisner na estante, mais dois volumes e uma série Netflix que deu conta de bater a popularidade absoluta da queridinha Stranger Things. Mais de 45 milhões de assinantes acompanharam a história dos irmãos Hargreeves e garantiram para The Umbrella Academy uma segunda temporada já confirmada ainda sem data de estreia.

Plot

Desenvolvido por Steve Blackman e Jeremy Slater, The Umbrella Academy orbita em torno de uma interessante família de super-heróis que foi idealizada, moldada e destruída por seu patriarca. E ah, pode contar também com alguns contratempos típicos como o fim do mundo, assassinos profissionais com máscaras de bichos e todo o drama familiar que uma família de desajustados merece.
Somos apresentados ao seu estranho universo com uma cena em uma piscina na Rússia, em que uma adolescente espontaneamente dá à luz após dar um beijo casto na bochecha de um rapaz, preparando o palco para o caos que se segue. Veja o trailer da série: Mas o caso não fora um evento isolado. Pelo contrário. Outras 42 mulheres também acabam por darem à luz no mesmo dia nas mesmas circunstâncias chamando a atenção do para lá excêntrico Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) – um rico britânico cujo mordomo é um chimpanzé falante e sua esposa é um robô – que, em uma missão, consegue adotar sete das crianças. Seis dos sete Hargreeves têm poderes especiais, desde as tão convencionais e batidas habilidades super-humanas, até aquelas tão estranhas quanto a capacidade de possuir monstros de outras dimensões. Hargreeves cria uma equipe de “super-heróis” com os seis que têm habilidades especiais, marcando-os como The Umbrella Academy (ou a Academia Guarda-Chuva, em tradução literal) e chamando-os de números em vez de nomes. Entretanto Sir Reginald acaba por negligenciar um de seus filhos, a criança “comum”, Número Sete, enquanto treina o resto das crianças para atingirem a todo o seu potencial. Sete, ou melhor, Vanya Hargreeves (Ellen Page), dedica-se a sua vida mundana e à música. Destaque fica para a abertura da série aos acordes de Fantasma da Ópera direto de seu violino, em uma repaginada mais rock ‘n’ roll. Afora os Hargreeves já citados, a Academia Umbrella é composta por: Luther Hargreeves, ou Número Um (Tom Hopper); Diego Hargreeves, ou Número Dois (David Catañeda); Allison Hargreeves, ou Número Três (Emmy Raver-Lampman) e Klaus Hargreeves, ou Número Quatro (Robert Sheehan). Ben Hargreeves, ou Número Seis (Justin H.Min), faleceu por circustâncias misteriosas antes do ponto de partida da série. Os assassinos Hazel (Cameron Britton) e Cha Cha (Mary J.Blige) fecham o elenco principal.

The Umbrella Academy: muito mais que uma jornada do herói

Sem mais delongas, os motivos nos quais tornam The Umbrella Academy tão fascinante é a maneira no qual acompanhamos seus personagens principais lidarem com seus traumas de infância, no melhor dos moldes da jornada de herói do Campbell. Em poucas palavras, a jornada do herói é uma fórmula idealizada por Joseph Campbell no livro O Herói de Mil Faces. Enquanto o mitologista esmiuçou a todas as trajetórias em comum desde os tempos de Homero, ele também catalogou a todo um processo que hoje são a base forte de alguns clássicos como Star Wars, Senhor dos Anéis ou Batman do Nolan. Conheça um pouco mais sobre os personagens da série: Com The Umbrella Academy não seria diferente, há sim certas modulações narrativas que evocam as trajetórias clássicas, mas não há espaço para protagonismo aqui. Todos os Hargreeves têm chance de brilharem, se desconstruírem, crescerem e evoluírem ao longo da série. E, no fim, Luther, que tem cara e jeitão de herói clássico acaba sendo ofuscado por seus irmãos fora da curva Klaus e Número Cinco. Enquanto o enredo principal soa convencional – deter o apocalipse é um ponto do enredo deveras saturado em franquias de super-heróis -, The Umbrella Academy é tudo menos isso. Das cenas de luta até a música “Istanbul (not Constantinopla)” de They Might Be Giants, para uma subtrama que envolve o Número Cinco sobrevivendo ao Apocalipse nos braços de um Manequim, o espetáculo se transforma em um caos tão maravilhoso que se torna incrivelmente surreal e cada vez mais difícil encontre qualquer ponto de trama que ressoe com um público típico. E não pense que a jóia da trama reside nos Hargreeves. A jornada dos antagonistas Hazel e Cha Cha são tão interessantes quanto. Não há muito o que dizer sem entregar a preciosidade de suas narrativas, mas existe algo de muito poderoso na maneira em que ambos acabam por roubar a cena e a atenção do público em seus próprios conflitos. Eles vão muito além de serem apenas mais um obstáculo. Destaque fica para a atuação de Mary J. Blige, que está muito distante da figura de diva do soul no qual é conhecida. The Umbrella Academy é muito mais do que salvar o mundo. É entender a si mesmo e aceitar-se, assim como entender o outro e aceitá-lo, sendo o perdão o maior ato heroico no final do dia. The Umbrella Academy estreou no dia 15 de fevereiro e a primeira temporada está disponível no Netflix.

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